terça-feira, 6 de outubro de 2015

A Guerra Civil entre Marvel e Fox, do cinema aos quadrinhos


As brigas no cinema chegam aos quadrinhos (veladamente)

Todos sabem que existe, atualmente, uma leve rixa entra a Marvel Studios e a Fox por causa dos direitos dos personagens. Isso começou  quando a Marvel passava por dificuldades financeiras, porém agora o cenário é outro. Passada a crise e a aquisição pela Disney, o dinheiro voltou a entrar e com os recentes sucessos dos filmes da casa das ideias, a briga pela volta dos direitos está ecoando pelo ar. Apesar de nenhum lado admitir oficialmente, a disputa existe e agora começa a chegar nos quadrinhos. Entretanto, para entender melhor o que acontece hoje, vamos voltar um pouco no tempo para explicar a situação.


Falência e venda dos direitos

Vamos voltar para o final dos anos 90 para entender um pouco dessa história. Para quem não sabe, nesta época, a Marvel estava falindo. Sim, você leu isso mesmo. A situação estava bem complicada. Para tentar sair do vermelho, os executivos acharam que vender os direitos dos seus personagens para os grandes estúdios de cinema seria uma boa. E foi. Os estúdios mais interessados naquele momento eram a Fox e a Sony (se fosse hoje…). Assim, a Fox ficou com os X-Men, Demolidor e Quarteto Fantástico enquanto a Sony com Homem Aranha, Justiceiro e Motoqueiro Fantasma. Por fora, veio a New Line que arrematou o Blade. Obviamente, cada um tinha um contrato, mas uma coisa era em comum, os estúdios tinham um tempo para produzir os filmes, caso contrário os direitos retornariam para a Marvel.

Pois bem, de todos esses filmes, os mais rentáveis e interessantes foram a franquia X-Men, Homem Aranha e os dois primeiros filmes do Blade. O Quarteto Fantástico fez um barulho, mas se comparado a esses acima, o desempenho foi mais abaixo (talvez, maior um pouco do que Blade, mas não tenho os dados aqui para afirmar). Passaram-se os anos, todos os demais heróis foram para o cinema. Só que nem de perto deram o retorno esperado para os estúdios (Demolidor que o diga). E após alguns fracassos de crítica e bilheteria e a não produção de nenhum deles, Justiceiro, Demolidor, Motoqueiro Fantasma e Blade retornaram para a Marvel em 2013, um momento onde o estúdio vem faturando altíssimo com seus filmes (principalmente os da fase 2).

Como já vimos este ano, a Marvel tratou de correr e trouxe, via Netflix, a sua versão do Demolidor. Não vamos comparar né, qualquer coisa mais pensada e elaborada seria melhor do que aquele filme do Ben Affleck (onde, a meu ver, o ator teve pouca culpa, o roteiro era fraquíssimo mesmo). E na onda, vai incluir mais alguns heróis para o grande público com Punho de Ferro, A.K.A Jessica Jones e Luke Cage, para então formarem os Defensores. Com a primeira série, a estratégia deu muito certo. A audiência foi alta e Demolidor foi uma das séries mais pirateadas nesse início de ano.


As primeiras trilogias

E quanto ao resto? Vamos falar deles agora. Sony e Fox tiveram basicamente a mesma sorte quando falamos de público, crítica e bilheteria em suas trilogias. Os dois primeiros X-Men foram excelentes, assim como o Homem Aranha estrelado por Tobey Maguire. Bilheteria alta, público adorando, bonecos sendo vendidos e consequentemente quadrinhos também. A Marvel aproveitou a onda dos filmes para alavancar as suas vendas. Ao ver o sucesso, a casa das ideias aproveitou algumas mudanças propostas nos filmes, como por exemplo, os uniformes dos X-Men (aquele preto emborrachado). Outro que pegou a onda foi o Homem Aranha que a partir da saga Dinastia M, passou a disparar teia orgânica como nos filmes.

Porém, tudo tem seus altos e baixos. O terceiro filme do Homem Aranha foi um fracasso, talvez não de bilheteria, mas de crítica, certamente A inclusão mal feita do Venom, o Homem Areia sendo indiretamente responsável pela morte do Tio Ben e o Duende Verde que já tinha sido muito bem inserido nos dois filmes anteriores foi estragado. Não havia trabalho nenhum para desenvolver o personagem. Sem contar a roupa preta e o simbionte. Já X-Men: O Confronto Final não foi tão ruim como Homem Aranha 3, mas os produtores parecem que queriam encerrar os filmes quando colocaram o tal do soro anti-mutante e a morte de personagens importantes.

Para voltar a fazer dinheiro, algo tinha que ser feito. A Fox arriscou e foi bem quando pensou na ideia do Primeira Classe para os X-Men. Renovou a franquia e trouxe uma nova gama de possibilidades, sem precisar contar uma nova história de origem (pelo menos daqueles personagens já apresentados nos outros filmes). O foco agora era na primeira turma de jovens mutantes liderados por Charles Xavier e Erik Lehnsherr.

A Sony preferiu recontar a história do amigão da vizinhança, o que, para mim, não tinha a menor necessidade, e nessa nova empreitada o estúdio erra mais do que acerta. Lembro que na época do lançamento do primeiro filme, eles vendiam uma ideia errada, que era a história nunca contada dos pais do Peter. Isso só teve relevância em um período curto nos quadrinhos, não fazia muito sentido explorar isso agora. Gosto do Andrew Garfield como Peter e da inserção da Gwen, porém era muito cedo para investir em uma nova história de origem. Do segundo filme, a melhor coisa, para mim, é o uniforme. Sem dúvida o mais fiel até hoje. Outra boa lambança disso tudo foi que após os seguidos fracassos a Marvel viu a possibilidade de trazer os direitos do personagem de volta (ela tentou).

A “guerra” com a Fox e a mudança da Sony

Quando eu falei guerra, obviamente não há algo declarado. Algo imposto, mas quem está vendo nas entrelinhas, percebe isso. Um exemplo claro foi com relação ao personagem Mercúrio. Assim que a Marvel anunciou que usaria o personagem em Vingadores: a Era de Ultron, logo a Fox tratou de inserir o corredor na continuação do Primeira Classe. A diferença é no tratamento dos personagens. A cena do Mercúrio em X-Men é bem legal, mas assim como feito lá trás com Colossus, é só isso, uma cena. Já em Vingadores há um enredo. Talvez, alguns tenham se perguntado o porque dos estúdios poderem usar os dois personagens. Ai há aquela brecha jurídica, pois Pietro e Wanda Maximoff são mutantes, porém são parte fundamental dos Vingadores (principalmente Wanda) e já faziam parte do grupo há muito tempo. O que eu gostaria de saber é quando foi feito o acordo, quais personagens até aquele momento eram considerados Vingadores e podem ser usados pela Marvel? Wolverine entrou para os Vingadores alguns anos atrás, ele poderia ser usado nos filmes? Provavelmente não, mas gostaria de saber até que período os personagens podem ser usados.

Assim que a Marvel anunciou que usaria Mercúrio em 
“Vingadores: a Era de Ultron”, a Fox tratou de inserir o corredor 
na continuação de “Primeira Classe”.

Enquanto a Marvel e a Fox brigavam para ver quem poderia usar quem, a Sony viu que após o lançamento do Homem Aranha 2 (da nova leva de filmes) não ia nada bem. A crítica não foi boa. O público não correspondeu como eles imaginavam (eu fui um deles). O boato sobre um filme do Sexteto Sinistro como heróis/vilões também não contribuiu. Já a Marvel estava com tudo amarrado para a sua fase 3 nos cinemas e entre seus filmes temos Capitão América: Guerra Civil. Para quem não sabe ou nunca leu, essa é uma das melhores sagas da Marvel nos últimos anos. Onde o governo quer que os heróis sejam registrados e revelem as suas identidades. De um lado temos o Homem de Ferro, a favor do registro e o Capitão América contra. O legal disso é que nos quadrinhos, o Homem Aranha é uma peça importante na guerra.


Foi ai, durante o planejamento e vendo o momento ruim da Sony com relação com o amigão da vizinhança que a Marvel veio de mansinho conversar com a Sony. Durante meses, boatos rolavam sobre isso. Até que um ataque a Sony e e-mails vazados de executivos mostrou que de fato havia uma conversa para usar o personagem no universo cinematográfico da Marvel. Após muito disse e me disse, o acordo foi feito. O Homem Aranha continuaria sendo da Sony nos cinemas, porém ele poderia ser usado pela Marvel, assim como os seus personagens poderiam aparecer em um filme solo do aracnídeo.

A Fox nem se quer cogita tal ideia, uma vez que os mutantes rendem uma boa grana e no geral seus filmes apresentam uma qualidade boa (tirando os filmes solo do Wolverine). Mas e o Quarteto Fantástico nisso tudo? Bem, após os dois filmes, a Fox deixou ele de lado por um bom tempo. Quando os direitos estavam quase expirando e voltando para a casa das ideias, a Fox resolveu fazer um reboot (esse sim, mais aceitável, uma vez que o primeiro filme lançado completa dez anos em 2015). E foi ai que a Marvel se roeu de raiva.

Mudança nas HQs

Antes, a Marvel tinha um tratamento com relação aos filmes. Sabia que as pessoas ao saírem dos cinemas correriam para ler os quadrinhos dos heróis que acabaram de ver nas salas do cinema. Como disse anteriormente, chegaram até usar as ideias dos filmes que nem eram dela e colocar nas histórias. E foi ai que o cenário começou a mudar. Primeiro que a Marvel foi comprada pela Disney e incluído nisso uma infraestrutura e investimentos. Segundo, com a venda dos seus personagens de primeiro escalão para os estúdios, eles tiveram que usar os mais abaixo para lucrar no cinema. Hoje, pensar que Homem de Ferro, Hulk e Thor já foram menos importantes que X-Men e Homem Aranha beira o absurdo, mas sim, eram. A Marvel criou a sua nova mina de ouro e o melhor com personagens que ela possui os direitos. Talvez, um dos mais conhecidos dos anos 90 era o Capitão América.


Porém, não é porque você elevou novos personagens, criou uma franquia fortíssima nos cinemas que não vai querer pegar o que é seu. Como a Fox não quer papo e a Marvel sabe que os quadrinhos afetam um pouco os filmes do estúdio concorrente, a estratégia começou a mudar. Trago duas provas disso. A primeira é que recentemente, o Quarteto Fantástico nos quadrinhos acabou. A Editora achou que era o momento do grupo acabar e encerrou as HQs. Claro que mais para frente eles vão voltar, mas fazer isso agora, perto da estreia do novo filme (agosto), é um tanto quanto estranho.

Outro ponto é o afastamento dos X-Men. Lá fora está rolando a saga Secret Wars, onde todos os personagens da Marvel estão envolvidos. Na história, a névoa de terrígeno dos Inumanos, substância que estimula a transformações dos Inumanos, é letal para os X-Men. Após uma explosão, a névoa foi espalhada pela Terra e para não serem afetados, os mutantes decidiram deixar o planeta. Se ao final da saga isso for mesmo confirmado, um planeta só com pessoas do gene X, é um passo para isolar estes personagens dos demais dentro da Marvel. Neste caso há uma pouco mais de cuidado, uma vez que, os mutantes sempre foram bons em vendas e público nos quadrinhos.

Essa disputa está longe de acabar. Resta saber os próximos capítulos dos bastidores. A Fox vai fechar a sua segunda trilogia e se for bem aceita e bem amarrada, isso estará longe de chegar ao fim.

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